Raízes africanas
A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão-de-obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, principalmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos destes escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angolanos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas.
No Brasil
Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros. Eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta.
Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.
A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.
Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.
Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.
A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.
Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.
Três estilos da capoeira
A capoeira possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira angola. As principais características deste estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia. O estilo regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o contemporâneo, que une um pouco dos dois primeiros estilos. Este último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade.
******** Você Sabia ? ********
- Uniforme dos capoeiras da Regional.
Mestre
Bimba aboliu os sapatos no treino e instituiu o uniforme branco baseado
no costume da domingueira, a roupa elegante que o capoeirista vestia e
que permanecia limpa mesmo depois do jogo, provando sua competência.
- Descriminalização da Capoeira.
Depois
de ver uma exibição de Capoeira no Rio de Janeiro, em 1937, o
presidente Getúlio Vargas descriminalizou-a e decretou ser aquele o
"esporte autenticamente brasileiro". Até então, os capoeiristas podiam
pegar de dois meses a
três anos de prisão, com pena de deportação no caso de estrangeiros.
- Terno Branco
Antigamente,
era de costume os capoeiristas trajarem terno de linho branco. Era
considerado um bom jogador aquele que conseguisse sair da roda com o
terno impecavelmente limpo.
- Dos 50 golpes bem aplicados da capoeira que Mestre Bimba ensinou, 22 eram mortais.
- Em 1930 o famoso Karatê não era conhecido na Bahia.
- Mestre Bimba foi o Capitão da Navegação Baiana.
-
Mestre Bimba teve sua primeira escola de capoeira Angola, em 1918 com
apenas 18 anos, obtendo apenas em 1937 o alvará da Academia de Capoeira
Regional.
>>>MÚSICA<<<
Antigamente
as cantigas serviam para disfarçar os treinos dos escravos nas
senzalas, fazendo com que esses parecessem danças, enganando assim os
seus senhores. Hoje em dia, as cantigas de capoeira têm por finalidade
de dar ritmo ao jogo transmitindo energia na roda de capoeira.
Cantos
Os cantos utilizados na capoeira são:
CHULA: É
uma cantiga curta, normalmente feita de improviso que faz apresentação
ou identificação. É entoada pelo cantador para fazer a abertura de sua
composição. Normalmente faz uma louvação aos seus mestres às suas
origens ou à cidade em que nasceu ou está no momento, pode ainda fazer
culto a fatos históricos, lendas ou algum outro elemento cultural que
diga respeito à roda de capoeira. É comum aos cantadores da roda usarem a
chula como introdução para as corridos e ladainhas e, durante a mesma é
sugerido um refrão para o coro cantar.
CORRIDO: Como
o próprio nome já sugere, é uma cantiga que "acelera" o ritmo e que se
caracteriza pela junção do verso do cantador com as frases do refrão
repetido pelo coro total ou parcialmente, dependendo do tempo que o
cantador dá entre os versos que canta. O cantador faz versos curtos e
simples que são à toda hora repetidos e o conjunto deles é usado como
refrão pelo coro.
QUADRA: É
o que o nome diz, uma quadra. A quadra é uma estrofe curta de apenas
quatro versos simples, cujo conteúdo pode variar de acordo com a
criatividade do compositor que pode fazer brincadeiras com sotaque ou
comportamento de algum companheiro de jogo, pode fazer advertências,
falar de lendas, fatos históricos ou figuras importantes da capoeira.
LADAINHA: O
conteúdo de uma ladainha corresponde a uma oração longa e desdobrada
pelo cantador em versos entremeados pelo refrão repetido pelo coro. As
ladainhas, exclusivas do jogo de Angola, são cantadas antes do início do
jogo. Os participantes da roda devem ficar atentos ao cantador, pois na
ladainha pode ser feito um desafio e, quando for dada a senha para o
início do jogo qualquer um pode ser chamado neste desafio.
Os principais toques da capoeira angola:
ANGOLA: Este toque é tocado pelo berimbau Gunga, o qual comandará a roda, dando inicio e cadência ao ritmo.
SÃO BENTO PEQUENO: Este toque é tocado pelo berimbau Médio, acompanhando o ritmo do toque de Angola. Também conhecida como Angola Invertida.
SÃO BENTO GRANDE DE ANGOLA: Este toque é tocado pelo berimbau Viola, acompanhando o ritmo do Gunga, porém com mais variações.
JOGO DE DENTRO: Este
toque indica a prática do jogo com o mesmo nome. Jogo de Dentro é jogo
de malícia, resistência e muito conhecimento na roda.
APANHA LARANJA NO CHÃO TICO-TICO: Muito
usado pelos capoeiristas e Mestres antigos, este toque usava-se para
pegar dinheiro na roda, ou seja: em determinado momento, alguns
espectadores lançavam notas, no centro da roda, as quais eram reunidas e
envoltas em um lenço. Iniciava-se então um jogo manhoso e de muita
destreza e malicia na busca de pegar o dinheiro com a boca. Hoje em dia
esta prática está em desuso, já que a violência tem prevalecido muitas
vezes na Roda de Capoeira.
Na Capoeira Regional
Na
Capoeira Regional possui apenas um berimbau e dois pandeiros, e as
ladainhas geralmente são curtas, mais ou menos de um tamanho de uma
quadra. E os sete toques criado pelo Mestre Bimba que vai variando os
jogos.
Os sete toques da capoeira regional:
IÚNA: Este
toque foi baseado no canto do pássaro Iúna. É um jogo mais dentro e
contínuo, executando movimentos de "floreio", e apenas os mestres e
formados podem participar nesse jogo. Durante a sua execução utilizam
apenas os instrumentos, e não se canta.
AMAZONAS: É
o toque festivo, usado para saudar mestres visitantes de outros lugares
e seus respectivos alunos. É usado em batizados e encontros.
CAVALARIA: É
o toque de aviso ou de alerta. Sua origem remonta ao tempo da proibição
da capoeira, quando era empregado para denunciar a presença da polícia
montada, do chamado esquadrão da cavalaria. Um capoeirista postava-se
num lugar estratégico e, ao divisar a polícia, imitava o tropel dos
cavalos no berimbau e a roda transformava-se em "inocente brincadeira".
SANTA MARIA: É utilizado geralmente apenas em apresentações e relaciona-se ao jogo de navalha, faca ou facão.
BENGUELA: É um jogo lento, solto, floreado e bastante disputado, que foi introduzido para poder jogar com os angoleiros.
IDALINA: Neste
toque não há um tipo característico de jogo claramente definido, sendo
que, às vezes prevalece na "performance" dos jogadores uma certa
teatralidade que remete à conquista amorosa.
SÃO BENTO GRANDE DE BIMBA OU REGIONAL: Nestse jogo requer um jogo pelo alto, solto e rápido com golpes explosivos e traumáticos.
História de Grandes Mestres
MESTRE WALDEMAR DA PAIXÃO (1916 - 1990)
muito pouco se fala sobre ele eu mesmo só o conheço de letras de músicas
Waldemar Rodrigues da Paixão, cantador absoluto, Capoeira desde rapaz, esteve presente nessa Roda, sempre ensinando com seu canto, mostrando como é que faz. Teve como seus Mestres, nada menos do que Siri de Mangue, Tanabí e Canário Pardo. Frequentador assíduo das Festas de Largo, tinha o seu barracão, na Liberdade, onde ensinava e promovia as suas Rodas, muito conhecidas e apreciadas por todos e frequentadas por capoeiras e artistas como o notável Carybé. Ficou conhecido também pela qualidade e beleza dos berimbaus que fabricava. Temido e respeitado, por todos com quem jogava, teve vários admiradores e alunos, dentres eles Zacarias. Muitos e muitos capoeiristas e estudiosos, várias vezes recorrem ao Mestre que sempre atendeu a todos com a simpatia e cortesia de um Capoeira genuíno. Hoje Mestre Waldemar anda por outras Rodas, porém aqueles que passam pela Avenida Peixe, na Liberdade, ainda podem sentir a sua presença e ouvir o seu inconfundível canto, acompanhado com seu "berimbau voizero".
MESTRE PASTINHA (1889/1981)
Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, filho de pai espanhol e mãe baiana, é um dos mais importantes "Velhos Mestres da Capoeira". Foi um dos fundadores do Centro Esportivo de Capoeira Angola e teve como Mestre o negro e ex-escravo Benedito. Artista, poeta, escritor, filósofo e, acima de tudo em Capoeira, Mestre Pastinha conta em sua obra com o livro "Capoeira Angola", publicado em 1964 e com disco fonográfico "Capoeira Angola -Mestre Pastinha e sua Academia" (Philips. 1969). Conquistou a admiração de renomados artistas e intelectuais como Jorge Amado, Carybé, Mário Cravo, dentre outros que tiveram o privilégio de conviver com o Mestre. Participou, representando o Brasil, do I Festival Internacional de Arte Negra de Dakar ."Seu Pastinha", ainda hoje, é considerado como o grande divulgador do "Tao da Capoeira"
MESTRE BIMBA (1900-1974)
Manoel dos Reis Machado, baiano de nascimento, filho de Luís Cândido Machado e de Maria Martinha do Bonfim, iniciou-se na Capoeira em 1912 com Bentinho, um Capitão da Cia de Navegação Baiana. Lutador por excelência, Mestre Bimba na década de 30, cria a "Capoeira Regional" como uma forma de "resgatar" a característica de luta da Capoeira. Em 1932, funda a primeira academia de Capoeira do mundo, existente até hoje no Centro Histórico de Salvador. No decorrer de sua mestria, teve como alunos pessoas influentes e de destaque da sociedade baiana como o Dr. Antônio Carlos Magalhães, o Dr. Lomanto Júnior e o Dr. Decânio entre outros. Mestre Bimba é considerado por muitos, como o "Pai da Capoeira Moderna" - já que criou um método próprio de ensino - e também como um dos grandes responsáveis pela aceitação. da Capoeira como uma modalidade de Esporte, interrompendo o processo de repressão policial e amenizando a discriminação social sofrida até então.
MESTRE BIMBA
23 de Novembro de 1900, nascia
ele um dos principais nomes da capoeira, lembrado em qualquer lugar.
Mestre Bimba criador da luta regional baiana, fez com que a capoeira se
desenvolve-se como arte marcial brasileira. Desafiou vários lutadores para provar a eficiência de sua luta.
106 anos de História !
MESTRE BIMBA - BA (1900-1974)
"A aranha vive do que tece"
. Criou a capoeira regional, na época consistia de 52 golpes.
. Criou um método de ensino, a chamada seqüência de Bimba que consiste em 8 seqüências de ataque e defesa para serem executados na roda.
.
Criou a seqüência de cintura desprezada, que é uma série de balões
cinturados, que os alunos só podiam jogar depois de formados, ao toque
de iuna.
. Criou o batizado de capoeira, um ritual onde o aluno é iniciado na capoeira recebendo um apelido e sua primeira graduação.
. Criou a graduação na capoeira, que consistia em 4 lenços de esguião de seda:
1º lenço cor azul - aluno formado
2º lenço cor vermelho - aluno formado e especializado
3º lenço cor amarelo - curso de armas
4º lenço cor branco - mestre de capoeira
MESTRE COBRINHA VERDE ( 1917 - 1983 )
Rafael Alves França, mandingueiro respeitadíssimo no seu percurso por este mundo de meu Deus. Nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA). Com 4 anos de idade iniciou-se na Capoeira pelas mãos de Besouro, seu primo carnal. Além de seu primeiro mestre, Cobrinha Verde também bebeu da sabedoria de Maitá, Licurí, Joité, Dendê, Gasolina, Siri de Mangue, Doze Homens, Espiridião, Juvêncio Grosso, Espinho Remoso, Neco, Canário Pardo e Tonha. Foi 3° Sargento no antigo Quartel do CR em Campo Grande, tendo participado também da Revolução de 32 entre outras pelejas. Durante muitos anos ensinou em seu Centro Esportivo de Capoeira Angola Dois de Julho, com sede no Alto de Santa Cruz, s/ n°, no Nordeste de Amaralina.
MESTRE CAlÇARA (1923 - 1997)
Antônio Conceição Moraes, quem já não ouviu falar do famoso Mestre Caiçara da Bahia? Cantador de primeira qualidade, contador de muitos casos e estórias da Capoeira, tem sempre uma boa reza para oferecer aos seus camaradas e por certo, aos não camaradas também. Figura muito conhecida das Festas de Largo de Salvador, Mestre Caiçara sempre está presente em qualquer festejo popular, portanto em sua camisa as cores vermelho e verde, promovendo sempre a sua Academia Angola São Jorge dos irmãos Unidos do Mestre Caiçara, cujo o nome também é o título de seu primeiro disco fonográfico gravado pela AMC, São Paulo, e encontrado ainda nas lojas de disco. Defensor radical das tradições africanas é sempre bom receber em Nagâ, Ketu, Gêge e Angola, suas bençãos e ouvir sua opinião sobre os grandes Capoeiras do passado e suas considerações sobre a Capoeira de hoje. Todas as tardes ele se encontrava no terreiro de Jesus confabulando, vendendo seu peixe e gingando, mas no dia 28 de agosto de 1997, ele nos deixou com sua arte e magia.
MESTRE CANJIQUINHA (1925- 1994)
Washington Bruno da Silva, nasceu em Salvador (BA), filho de D. Amália Maria da Conceição. Aprendeu Capoeira com Antônio Raimundo - o legendário Aberrê. Iniciou-se na Capoeira em 1935, na Baixa do Tubo, no Matatu Pequeno. "No banheiro do finado Otaviano" (um banheiro público). Filho de lavadeira, Mestre Canjiquinha foi sapateiro, entregador de marmita, mecanógrafo. Dentre outras atividades foi também jogador de futebol (goleiro) do Ypiranga Esporte Clube, além de cantor de boleros nas noites soteropolitanas. Participou também dos filmes "O Pagador de Promessas", "Operação Tumulto", "Capitães de areia", "Barra Vento", "Senhor dos Navegantes" e "A moça Daquela Hora". Além de fotonovelas com Sílvio César e Leni Lyra. Fundou o Conjunto Folclórico Aberrê, tendo sido Mestre de Antônio Diabo, Paulo dos Anjos, Burro Inchado, Madame Geny, Vitor Careca, Robertão e Brasília, dentre outros nomes da Capoeira atual.
Mestre Paraná
Osvaldo Lisboa dos Santos, conhecido como Mestre Paraná, foi um dos melhores tocadores de berimbau de todos os tempos. Nasceu em Salvador - Bahia - em 1923, sendo o primeiro a tocar berimbau na orquestra sinfônica do teatro municipal do Rio de Janeiro. Participou também no filme "O Pagador de Promessas".
Esse
angoleiro nato, viajou por todo o Brasil, mostrando a capoeira e o som
inigualável do seu "gunga", gravando um compacto duplo pela CBS
(capoeira Mestre Paraná), fato este o primeiro que se tem notícia. Convidado por Mercedes Batista, foi a Portugal divulgar a capoeira jogada no Brasil.
Mestre Paraná fundou o Grupo de capoeira São Bento Pequeno nos idos nos anos 50, do qual com muito orgulho, constitui toda a formação do grupo Muzenza. No dia 7 de Março de 1972, no IAPASE (Rio de Janeiro), vítima de um súbito colapso cardíaco, morre cantando o grande angoleiro, deixando uma lacuna em nossa capoeiragem.
BESOURO MANGANGÁ
A
palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo
Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria
Haifa. Era o menino Manuel Henrique que, desde cedo aprendeu, com o
Mestre Alípio, os segredos da Capoeira na Rua do Trapiche de Baixo, em
Santo Amaro da Purificação, sendo batizado como Besouro Mangangá por
causa da sua flexibilidade e facilidade de desaparecer quando a hora era
para tal.
Negro forte e de espírito aventureiro, nunca trabalhou em lugar fixo nem teve profissão definida.
Quando
os adversários eram muitos e a vantagem da briga pendia para o outro
lado, "Besouro" sempre dava um jeito, desaparecia. A crença de que tinha
poderes sobrenaturais veio logo, confirmando o pmotivo de ter ele
sempre que carregar um "patuá". De trem, a cavalo ou a pé,
embrenhando-se no matagal, Besouro, dependendo das circunstâncias, saia
de Santo Amaro para Maracangalha, ou vice-versa, trabalhando em usinas
ou fazendas.
Certa
feita, quem conta é o seu primo e aluno Cobrinha Verde, sem trabalho,
foi a Usina Colônia (hoje Santa Eliza) em Santo Amaro, conseguindo
colocação. Uma semana depois, no dia do pagamento, o patrão, como fazia
com os outros empregados, disse-lhe que o salário havia "quebrado" para
São Caetano. Isto é: não pagaria coisa alguma. Quem se atrevesse a
contestas era surrado e amarrado num tronco durante 24 horas. Besouro,
entretanto, esperou que o empregador lhe chamasse e quando o homem
repetiu a célebre frase, foi segurado pelo cavanhaque e forçado a pagar,
depois de tremenda surra.
Misto
de vingador e desordeiro, Besouro não gostava de policiais e sempre se
envolvia em complicações com os milicianos e não era raro tomava-lhes as
armas, conduzindo-os até o quartel. Certa feita obrigou um soldado a
beber grande quantidade de cachaça. O fato registrou-se no Largo de
Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O militar dirigiu-se
posteriormente à caserna, comunicando o ocorrido ao comandante do
destacamento, Cabo José Costa, que incontinente designou 10 praças para
conduzir o homem preso morto ou vivo.
Pressentindo
a aproximação dos policiais, Besouro recuou do bar e, encostando-se na
cruz existento no largo, abriu os braços e disse que não se entregava.
Ouviu-se violenta fuzilaria, ficando ele estendido no chão. O cabo José
chegou-se e afirmou que o capoeirista estava morto. Besouro então
ergueu-se, mandou que o comandante levantasse as mãos, ordenou que todos
os soldados fossem e cantou os seguintes versos: Lá atiraram na cruz/
eu de mim não sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/ Besouro
caiu no chão fez que estava deitado/ A plícia/ ele atirou no soldado/
vão brigar com caranguejos/ que é bicho que não tem sangue/ Polícia se
briga/ vamos prá dentro do mangue.
As
brigas eram sucessivas e por muitas vezes Besouro tomou partido dos
fracos contra os propritários de fazendas, engenhos e policiais.
Empregando-se na Fazenda do Dr. Zeca, pai de um rapaz conhecido por
Memeu, Besouro foi com ele às vias de fato, sendo então marcado para
morrer.
Homem
influente, o Dr. Zeca mandou pelo próprio Besouro, que na atilde;o
sabia ler nem escrever, uma carta para um seu amigo, administrador da
Usina Maracangalha, para que liquidasse o portador. O destinatário com
rara frieza mandou que Besouro esperasse a resposta no dia seguinte.
Pela manhã, logo cedo, foi buscar a resposta, sendo então cercado por
cerca de 40 soldados, que incontinente fizeram fogo, sem contudo atingir
o alvo. Um homem entretanto, conhecido por Eusébio de Quibaca, quando
notou que Besouro tentava afastar-se gingando o corpo, chegou-se
sorrateiramente e desferiu-lhe violento golpe com uma faca de ticum.
Manuel Henrique, o Besouro Mangangá, morreu jovem, com 27 anos, em 1924, restando ainda dois dos seus alunosL Rafael Alves França, Mestre Cobrinha Verde e Siri de Mangue.
Hoje,
Besouro é símbolo da Capoeira em todo o território baiano, sobretudo
pela sua bravura e lealdade com que sempre comportou com relação aos
fracos e perseguidos pelos fazendeiros e policiais.
Madame Satã
O Pernambucano João Francisco dos Santos (1900-1976), o mítico Madame Satã, era uma espécie de bandido chique. Dizia ser filho de Iansã e Ogum e devoto da cantora
americana Josephine Baker. Homossexual assumido em plenos anos 30, ele
reinava como camareiro, cozinheiro, transformista, leão-de-chácara e
ladrão no submundo da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. Negro, pobre e analfabeto, João dos Santos ganhou o apelido de Madame Satã por causa de uma fantasia que usou no bloco carnavalesco Caçadores de Veados em 1942.
Madame Satã foi especial pela infinita capacidade
de transformação. Nunca aceitou um único papel. Homossexual, se vestia
com o chapéu de panamá e linho apurado de bom malandro, a despeito das
sobrancelhas feitas. Jamais admitiu homem se casar com homem e chegou a
ter rumorosos casos com meninas de 12 anos. Lutador, viveu quase 28
anos preso em lendária tranqüilidade. Negro, usava os cabelos longos e alisados e comprava briga para ir aonde bem entendesse.
Para entender quem foi Madame Satã, é preciso compreender quem foi João Francisco dos Santos e o que foi a Lapa dos anos 30, território-livre da malandragem que resistiu ao bota-abaixo do Centro do Rio, promovido pelo prefeito Pereira Passos. O desmanche de morros, a abertura de avenidas e a demolição de cortiços foi uma tentativa de assepsia da capital federal que, no início do século 20, contava com 800 mil habitantes, 200 mil deles desocupados de todas as espécies, de baleiros a biscateiros, desempregados, rufiões, prostitutas e jogadores de capoeira, entre eles o próprio João dos Santos.
Foi nesse tipo de ambiente que surgiu Madame Satã. Vinte anos depois da Abolição,
o menino trabalhava como escravo em Itabaiana, na Paraíba, antes de
fugir para o Rio. Depois passou para as mãos de Catita, uma cafetina de
180 quilos que comandava um dos bordéis mais animados da cidade e tornou-se freqüentador de célebres bares e cabarés da mitologia carioca: Colosso, Capela, Imperial, Bahia, Apolo, Royal Pigalle, Viena Budapest, Casanova e Cu da Mãe. Era um tempo de uma marginalidade
pré-industrial, com raras armas de fogo, quando um negro forte podia
criar fama no tapa e na navalha, antes de se lambuzar com um "boneco" de
cinco gramas de cocaína comprado na farmácia mais próxima.
Ao
todo, João Francisco contabilizou 27 anos e oito meses de cadeia, 29
processos, 3 homicídios e cerca de 3 mil brigas. Ágil lutador de capoeira e mestre no manuseio da navalha, contam que ele sempre trazia uma presa na sola do sapato, Madame Satã só recorria ao revólver em situações extremas, a exemplo da vez em que desfechou um tiro num soldado, na esquina da rua do Lavradio com a avenida Mem de Sá. Na famosa entrevista concedida ao histórico tablóide O Pasquim, em 1976, com seu deboche habitual o malandro afirmou ter sido preso injustamente, alegando que a arma disparara de forma casual. A bala fez o buraco, quem matou foi Deus, afirmou. Dizia que não brigava, se defendia.
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Inventário da Capoeira - Dossiê do IPHAN
Que
a capoeira tenha sido reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do
Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
IPHAN em 2008, os capoeiristas já sabem de cor, o que alguns ainda desconhecem é todo o processo administrativo, jurídico, histórico e científico que existe por trás desse registro, como por exemplo a elaboração do Inventário para Registro e Salvaguarda da Capoeira como Patrimônio Cultural do Brasil.
O
inventário ou dossiê, como também é conhecido, é um relatório técnico
elaborado entre 2006 e 2007, para a instrução do processo de registro da capoeira como patrimônio cultural brasileiro. O propósito dessa publicação é justificar a importância da capoeira enquanto bem cultural a ser preservado pelo Estado.
A elaboração do dossiê baseou-se na pesquisa historiográfica e na pesquisa de campo, realizadas nas cidades de Recife, Salvador e Rio de Janeiro, localidades reconhecidas como berço da capoeira e ponto de partida para a reconstituição de sua trajetória.
O trabalho foi efetuado por uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais de História, Antropologia, Psicologia, Educação Física e Artes Cênicas, sendo alguns destes profissionais também capoeiristas.
Abaixo segue o sumário do inventário, para apreciação de seu conteúdo.
Introdução
1. As referências históricas
Origens e mitos fundadores
As cidades da capoeira
1930-1940: nasce uma nova tradição da capoeira
1950-1970: o processo de folclorização e esportização
A globalização da capoeira
2. O aprendizado e as escolas de capoeira
Da rua para a academia: o nascimento das primeiras escolas de capoeira
Algumas trajetórias da capoeira nos dias atuais
3. Descrição das rodas de capoeira
Etnografia e performance
Os movimentos e golpes
O canto, os toques e a dinâmica das rodas
4. Os instrumentos
Berimbau
Atabaque
Pandeiro
Agogô e reco-reco
5. Os mestres e as rodas: patrimônio vivo
6. Recomendações de Salvaguarda para a prática e difusão da capoeira no Brasil
Bibliografia
EQUIPE TÉCNICA:
Coordenação: Wallace de Deus Barbosa
Assistente de coordenação: Maurício Barros de Castro
Consultores: Frederico José de Abreu e Matthias Rohrig Assunção
Importante!
Quando se fala sobre a proteção patrimonial da capoeira, o correto é dizer que ela foi registrada e
não tombada como comumente se ouve falar, pois o tombamento é o
instituto utilizado para proteger bens culturais materiais, como prédios
e documentos.
A capoeira foi registrada como Patrimônio Cultural do Brasil sob duas formas:
- A roda de capoeira no livro das formas de expressão
- O ofício de mestre de capoeira no livro dos saberes
Ler o dossiê é um importante passo na formação dos capoeiras, para que possamos compreender um pouco mais sobre nossa arte e seu processo de registro como Patrimônio Cultural.
Para fazer o download do dossiê clique aqui ou acesse o site do IPHAN no seguinte link:
No site também é possível acessar diversos documentos que compõe o processo de registro da capoeira, além fotos, áudios de músicas de capoeira e um vídeo elaborado com base na pesquisa do inventário.
Titulação da Roda de Capoeira como Patrimônio Cultural do Brasil
Titulação do Ofício dos Mestres de Capoeira como Patrimônio Cultura do Brasil
Maiores informações: http://www.iphan.gov.br
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